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A ÁGUA DA VIDA

Edgar Andrews
Preletor na 7ª Conferência Fiel em Portugal - 2007

Muitas igrejas reformadas sofrem uma grave sequidão espiritual.
No cenário atual, comparado com o de cinqüenta anos atrás, há poucas
conversões a Cristo, pouca evidência de piedade pessoal e falta de
entusiasmo por missões e evangelismo. O compromisso com Cristo e
sua igreja está em baixa. O que podemos fazer?

Ao considerar o papel do Espírito Santo na evangelização, surgem
três perguntas: 1) Precisamos do Espírito Santo na evangelização? 2)
Devemos mencioná-Lo em nosso evangelismo? 3) Quais as atividades
dEle na evangelização? A principal resposta à primeira
destas perguntas encontra-se no começo da era evangélica. João
Batista declarou: “Aquele, porém, que me enviou a batizar com água me
disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que
batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33; ver também Lc 3.16).
Há duas verdades distintas aqui. Primeira, o próprio Cristo foi capacitado
pelo Espírito Santo em sua proclamação do evangelho. Como
Jesus descreveu o seu ministério público? Citando Isaías 61.1-2: “O
Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para
pregar boas-novas aos quebrantados...”

CUMPRINDO A PROMESSA

Por sua vez, os discípulos foram proibidos de pregar, até que
recebessem a unção do Espírito (At 1.4-5). Paulo recordou aos crentes
de Tessalônica: “O nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em
palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”
(1 Ts 1.5). Pedro resumiu o assunto quando se referiu àqueles
“que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho” (1
Pe 1.12). No Novo Testamento, esta é a única maneira pela qual o evangelho
pode ser verdadeiramente pregado.


A segunda verdade é que João Batista define o ministério de Cristo
como a outorga do Espírito Santo sobre o seu povo. As palavras do
apóstolo João não são apenas uma predição referente ao Dia de Pentecostes,
são também uma afirmação poderosa sobre a missão de Cristo
— “Cristo nos resgatou da maldição da lei... para que a bênção de Abraão
chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela
fé, o Espírito prometido” (Gl 3.13-14, ênfase acrescentada).
Não podemos evangelizar sem o pleno envolvimento do Espírito
Santo em cada etapa.

FALANDO SOBRE O ESPÍRITO SANTO
Nossa segunda pergunta é muito interessante. Devemos mencionar
o Espírito Santo em nosso evangelismo? Reconhecendo que o Espírito
Santo é o cerne de todo evangelismo verdadeiro, devemos fazer menção
dEle quando nos dirigimos aos nãosalvos? Os incrédulos precisam ouvir
sobre o Espírito Santo como parte integral da pregação do evangelho?
O Novo Testamento responde “sim”. Quando Jesus se envolveu no
evangelismo prático, Ele não hesitou em falar claramente sobre o Espírito
Santo. Jesus disse a Nicodemos que ele tinha de “nascer... do Espírito” e
ofereceu “a água viva” do Espírito Santo à mulher samaritana, no poço
de Jacó, bem como às multidões reunidas na Festa dos Tabernáculos
(Jo 3.5-7; 4.10; 7.37-39). Com a mesma clareza, Pedro se
referiu ao Espírito Santo no Dia de Pentecostes. “Arrependei-vos, e cada
um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos
vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38, ênfase
acrescentada). E essa não foi uma “oferta limitada” que marcou o início
da Nova Aliança, visto que Pedro continuou: “Para vós outros é a
promessa [do Espírito], para vossos filhos e para todos os que ainda estão
longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”.
Décadas mais tarde, Paulo expressou o interesse de que os discípulos
de Éfeso entendessem que uma posse consciente do Espírito Santo
é necessária, para alguém desfrutar a segurança de salvação (At 19.1-6).
O Novo Testamento apresenta o Espírito Santo como Aquele que dá
o poder pelo qual o evangelho tem de ser pregado e como a essência do
dom do evangelho. Freqüentemente, reconhecemos a primeira dessas
verdades, mas raramente apreciamos a segunda.

ESPERANDO NA OBRA DO ESPÍRITO

Nossa pergunta final é: “Quais as atividades dEle no evangelismo?”
Nossa resposta é importante porque afeta profundamente nossas expectativas,
quando pregamos o evangelho de Cristo. As obras do Espírito no evangelismo
são três. Primeira, conforme já vimos, é dar poder à pregação
do evangelho. Paulo testificou: “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasive de sabedoria, mas em demonstração
do Espírito e de poder” (1 Co 2.4).
A segunda operação é convencer aqueles que estão mortos em delitos
e pecados — convencê-los de que são responsáveis por seus próprios pecados,
diante de Deus. O Senhor Jesus prometeu: “Quando ele [o Espírito] vier,
convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado,
porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não
me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”
(Jo 16.8-11).

Sem entrar nos detalhes desta passagem, é claro que mentes cegas
por Satanás (2 Co 4.4) não serão abertas pela persuasão ou pelo raciocínio
humano. Uma obra spiritual de convicção é necessária — um
abrir do coração para o evangelho. E somente Deus, o Espírito Santo, pode
realizar essa obra.

RESSUSCITANDO OS MORTOS

A terceira operação do Espírito é, sem dúvida, trazer os mortos à
vida! Ninguém pode ver ou entrar no reino de Deus, se não “nascer de
novo” ou nascer do Espírito (Jo 3.1-8). Paulo se regozijava nesta obra de
regeneração do Espírito; ele disse: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia,
por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós
mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela
graça sois salvos” (Ef 2.4-5). O propósito imediato do evangelho
não é reformar as pessoas ou influenciar a sociedade. Tampouco é
encher o auditório da igreja. O propósito do evangelho é comunicar vida
espiritual a pecadores mortos em ofensas e pecados. Isto é algo que somente
o Espírito Santo pode realizar; e Ele o faz de maneira soberana.
No nível humano, talvez vejamos pouco da operação do Espírito
de Deus porque não a pedimos, nem esperamos vê-la. Se o Espírito de
Deus está entre nós, estejamos certos de que não impediremos a obra
que Ele veio realizar. Mas, se O entristecemos com o nosso baixo nível
de expectativa, Ele pode reter a sua liberalidade por algum tempo. O verdadeiro
avivamento derrama “água sobre o sedento e torrentes, sobre a
terra seca”. Mas isso jaz no soberano dom de Deus, e não podemos
fazê-lo acontecer. Podemos realmente preparar o solo, por meio de oração e fidelidade
pertinaz a Cristo. Mas, visto que os sintomas da sequidão espiritual incluem
falta de oração e negligência, estamos presos em um ciclo vicioso.
Talvez tenha exagerado na figura. Há exceções e lugares em que o
reino de Deus está avançando de modo admirável — embora essas

Os incrédulos precisam
ouvir sobre o Espírito Santo
como parte integral da
pregação do evangelho?

chamas de avivamento não sejam bem vistas por alguns, porque estão
acontecendo agora, e não no século XVIII. Mas esses acontecimentos
são a exceção, e não a regra. O que podemos fazer?

NEGLIGENCIANDO O ESPÍRITO
Existe algo que creio podemos e devemos fazer. Devemos buscar
uma maior consciência experimental do Espírito Santo e um entendimento
mais profundo do ensino bíblico a respeito da sua Pessoa e obra.
As igrejas reformadas, em geral, estão negligenciando estes aspectos
do evangelho e da vida cristã — sem dúvida porque tememos o declive
escorregadio dos excessos carismáticos. Mas um evangelho que
não tem lugar para o Espírito de Deus não é o evangelho. Também não somos
verdadeiros filhos de Deus, se não somos “guiados pelo Espírito” (Rm 8.14).
Estamos negligenciando o Espírito Santo. Raramente pregamos
sobre a sua Pessoa e obra. Não é feita qualquer menção a Ele em nosso
evangelismo — em contraste nítido com a prática do Novo Testamento.
Em meio a abundante literatura evangélica reformada, há poucos livros a
respeito do Espírito Santo, em nossos dias, e menos ainda a respeito de
nosso relacionamento com a terceira Pessoa do Deus triúno.
O contrário é verdade no movimento carismático. As prateleiras das
livrarias evangélicas gemem sob o peso desses livros! Mas, em sua
maioria, não têm utilidade, porque fazem o leitor retirar a sua atenção
de Cristo e agradam os desejos carnais por misticismo, emoções e “poder”.

EVITANDO OS PERIGOS

Um pouco de inquietação é compreensível. Um pastor carismático de
nossa cidade descreveu sua chamada como “pregar o evangelho do
Espírito Santo”. Mas é claro que o Novo Testamento desconhece esse
tipo de evangelho — conhece somente o evangelho de Cristo — pois
a obra do Espírito é glorificar a Cristo. Como disse Jesus: “Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14).

Creio que foi Charles Spurgeon quem disse: “Eu olhava para Cristo,
e a pomba da paz voava ao meu coração. Olhava para a pomba, e esta
ia embora novamente”. Não ousamos tirar nossos olhos de Cristo, quer para
encontrarmos a salvação, quer para corrermos a carreira que nos está
proposta (Hb 12.2).

Mas não devemos ir ao outro extremo e ignorar o Espírito Santo,
pois isto significa virar as costas ao Novo Testamento. Muitos crentes
ainda estão quase na condição de Atos 19: “Nem mesmo ouvimos que
existe o Espírito Santo” (v. 2).

Você recorda que essas palavras foram proferidas em resposta à pergunta
de Paulo: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?”
Quantos evangelistas reformados ousam fazer essa pergunta em
nossos dias? Sim, ela é tão relevante hoje como sempre o foi.

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